Em busca do livro infinito

Todo livro é infinito, ao menos enquanto for lido. Mas a rede de existência que se forma a partir da leitura de um livro é em larga parte invisível: afora opiniões da crítica, o impacto da obra sobre o leitor normalmente se propaga num boca-a-boca impossível de ser seguido. E ao autor resta apenas imaginar o fluxo subterrâneo desencadeado pelo que escreveu, e procurar algum traço dele nos leitores e escritores do seu convívio.

Entrando na segunda década do século XXI, porém, o fluxo desencadeado por qualquer ideia deixa cada vez mais pegadas. Queiramos ou não, basta existirmos em meio aos outros para que nossos nomes e imagens se proliferem em sites, mecanismos de busca e redes sociais, construídos por palavras e olhares alheios. Observar esses rastros surgirem, se transformarem e se libertarem de nós mesmos é uma das experiências mais singulares do nosso tempo. E é o destino que eu queria pro meu livro.

Novamente, não há nada de novo nisso tudo. Nossa intenção é apenas tornar evidente um processo que sempre existiu, o da alforria da obra em relação ao autor, no momento em que passa a evoluir através dos seus leitores. E registrar isso em tempo real, coletando comentários, referências, diálogos e produções sobre o texto, que se abre como um mapa aberto para recolhê-los, acessível a todos e em mutação permanente.

O projeto online de Correnteza e Escombros é uma tentativa de conciliar a inteireza necessária de uma obra literária enquanto concebida pelo escritor com a beleza de sua reconstrução contínua por parte de quem o lê. Para tanto, disponibilizamos o livro como um território a ser colonizado, propondo que ele seja a pedra inicial de algo. E cedemos o espaço aos leitores para que estes façam dele o que bem entenderem.

Da minha parte, estarei assistindo, interagindo e aprendendo, tão curioso para saber a continuação da história quanto vocês.

 

Na espera,
Olavo Amaral